Em casa ou no hospital? Posso pegar no colo? O que saber antes de visitar um recém nascido
Prática comum na cultura brasileira, a visita a um recém-nascido não pode ser encarada como algo corriqueiro. Apesar de ser interpretado como ato de carinho e afeto, estar ao lado da mãe e do bebê logo após o nascimento é ocasião que pede vários cuidados, inclusive o entendimento de qual é o momento adequado para isso.
“Os pais têm que tomar a decisão de quando ou onde receber os convidados para conhecer o recém-nascido antes mesmo do nascimento e definir regras, afinal, o bebê ainda é muito vulnerável”, afirma a pediatra Patrícia Terrível, neonatologista e membro do departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Em casa ou no hospital?
Segundo a especialista, o recomendado é que, no primeiro dia de vida, apenas parentes muito próximos estejam ali – e cabe ao restante da família compreender o momento.
Patrícia lembra que visitação ainda no hospital deve ser rápida, mas, mesmo assim, o ideal é que as pessoas que compareçam ao local respeitem as decisões dos pais sobre qual dia ir.
Vale lembrar que as maternidades sofreram alterações nos protocolos em decorrência da pandemia da covid-19. Muitas delas nem retomaram a liberação completa de visitantes.
“Em geral, dizemos que as mulheres devem estar assistidas e amparadas após o parto, mas que não recebam visitas em demasia. Já os bebês, só devem ser expostos a outras pessoas após os dois meses. Até lá, a recomendação é que eles mantenham contato apenas com familiares e amigos próximo”, orienta a pediatra Daniela Anderson, especialista em Neonatologia e Medicina Intensiva.
Colinho, pode?
É verdade que, junto da vontade de conhecer a nova pessoinha, está a empolgação em pegá-la no colo. Porém, nem sempre o colinho é mesmo bem-vindo. Nesse caso, vale considerar dois pontos importantes: a higiene e a rotina daquela nova família.
“Se a pessoa veio da rua, pegou ônibus ou avião, deve tomar banho, trocar de roupa e colocar uma fralda/paninho próprio do bebê em contato com sua roupa antes de colocá-lo”, diz Daniela.
Já a pediatra Patrícia reforça ser essencial compreender o contexto e a rotina familiar. Para ela, é fundamental respeitar a decisão dos pais e o momento daquele recém-nascido.
“É hora da visita e o bebê está dormindo? Não peça para pegá-lo, pois, talvez, tenha acabado de dormir. E outra: assim, evita-se que os pais fiquem sem jeito de falar ‘não'”, destaca.
Atenção à mãe
Além de todas as precauções e cuidados com o bebê após o nascimento, é preciso considerar como está a mãe antes de decidir visitá-la. De acordo com o ginecologista Carlos Moraes, dos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre, neste caso, não há uma regra, já que a situação da mulher deve ser avaliada individualmente.
“Se a paciente teve um parto normal ou cesariana eletiva, sem nenhuma intercorrência, ela já pode receber visitas de oito a doze horas depois do parto. Mas existem inúmeras situações que podem impedir as visitas, como a pré-eclampsia, a covid-19 e casos de sangramento, por exemplo”, considera o médico, especialista em perinatologia.
Sendo assim, a recomendação é avaliar como foi o parto daquela mãe e, também, seu histórico, bem como suas condições físicas e emocionais nas primeiras horas pós-parto.
Cuidados com a família
Se a rotina da casa de um recém-nascido já fica toda alterada, nada mais justo que impedir que a mãe ou sua rede de apoio ainda tenha que se preocupar em deixar tudo organizado e com comidinhas prontas para receber as visitas.
Assim, uma boa sugestão é a própria visita levar alguns quitutes. Sem contar que, quando há filhos maiores, tal atitude facilita a logística dos pais recentes.
Outra detalhe: não custa nada oferecer ajuda para lavar uma louça ou oferecer uma mão com os cuidados relativos aos filhos mais velhos. Ajuda desse tipo é sempre bem-vinda.
Presentes liberados
Se os presentinhos são tradição para o bebê, o mesmo não se pode dizer em relação à mãe. A maioria das pessoas esquece que as mulheres também ficam felizes com atitudes como essa, visto que o momento é de bastante instabilidade emocional para elas.
“Todos os cuidados e atenções que eram da mamãe agora passam ao recém-nascido. Por isso, atenção, cuidado e carinho também são imprescindíveis para a puérpera”, afirma a psicóloga Michele Bocchi.
A profissional reforça que o pós-parto é momento muito delicado emocionalmente para essa mulher, foco de um turbilhão de emoções, sobretudo pelas alterações hormonais típicas do período.
Então, uma visita e um carinho farão com que ela se sinta amada. Mas Michele orienta que não haja exagero. Assim, Michele indica que a companhia não ultrapasse os 40 minutos, sem a companhia de crianças – a não ser que a recém-mãe peça por isso. Tudo o que ela precisa, nesse momento, é cultivar a tranquilidade.
Doente, nem pensar!
De acordo com as médicas, além dos protocolos de cada maternidade e de entender o que os pais querem naquele momento, existem algumas regras de higiene a serem seguidas. A mais óbvia (que nem todo mundo segue, lamentavelmente) também é a maior restrição: quem estiver com gripe ou apresentar sintomas não deve chegar perto do recém-nascido.
Mesmo com a saúde em dia, alguns passos de higienização são essenciais antes do primeiro contato. Daniela ensina que os visitantes devem lavar as mãos, os braços até a altura dos cotovelos e o rosto, com água e sabão. Além disso, é bom ficar de máscara – e isso vale tanto para o ambiente hospitalar quanto a casa dos novos pais.
Outro ponto importante, é entender quem deve ir até o lar da família nos primeiros dias. O mais indicado é que bebê só deve ter contato com familiares, amigos próximos e cuidadores, já que ainda não têm as defesas necessárias.
“Após 10 dias da vacinação inicial, tempo para as vacinas fazerem efeito, esse contato pode aumentar. Ainda assim, não é recomendado colocar os bebês em ambientes muito aglomerados”, esclarece Daniela.
Mais uma orientação que deveria ser óbvia, mas nem sempre é seguida, é jamais aparecer de “surpresa” para a visita. “A rotina da família ainda está sendo formatada e o recém-nascido, em processo de adaptação ao ‘novo mundo’ fora da barriga da mamãe”, lembra Patrícia.