Do inchaço à depressão: como lidar com a TPM?
O tipo C de TPM, quem vem de “craving”, ou “desejo”, traduzindo do inglês para o português, está diretamente relacionado à compulsão alimentar
Segundo a FEBRASGO (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia), cerca de 75 a 80% das brasileiras apresentam sintomas de TPM (Tensão Pré-Menstrual), que surgem na semana anterior à menstruação e costumam cessar ou diminuir com o início do fluxo menstrual.
“Entretanto, estas manifestações são variáveis e cada mulher passa por experiências muito particulares e em diferentes níveis”, afirma Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, membro da FEBRASGO e médico nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.
Por conta da complexidade dos mais de 150 sintomas da TPM, ela foi separada em 5 categorias diferentes, que podem estar associadas ou não.
Quais são os 5 tipos de TPM?
TPM A
O tipo A tem como foco a ansiedade, um dos sintomas mais citados por mulheres que sofrem de TPM. Isso ocorre devido à queda do estrogênio, hormônio neurotransmissor que, entre inúmeras funções, regula o emocional da mulher.
“Além disso, há uma maior liberação de adrenalina e cortisol, dois hormônios neurotransmissores que aumentam os níveis de estresse e ansiedade”, completa Claudia Chang, doutora e pós-doutora em Endocrinologia e Metabologia pela USP.
Principais sintomas: angústia, tensão/estresse, insônia ou sono em excesso, dores musculares, fadiga, irritabilidade, alterações constantes de humor e desatenção.
O que pode ajudar: é recomendável praticar atividades que trabalhem mente e corpo, como yoga e meditação, além dos exercícios de respiração.
“Se a ansiedade se tornar crônica e incapacitante em todos os ciclos menstruais, o ideal é buscar ajuda médica. É possível a indicação de terapia comportamental e até medicamentosa”, pontua Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).
TPM C
O tipo C, que vem de “craving”, ou “desejo”, em inglês, está diretamente relacionado à compulsão alimentar. Alguns alimentos, como os doces, ativam o sistema límbico no cérebro, região envolvida com o mecanismo de ganho e recompensa. Este efeito acaba sendo registrado pelo cérebro como uma solução para combater o desconforto.
“Ou seja, na TPM, automaticamente haverá uma associação aos doces, como uma espécie de alívio e fuga do estado emocional, fazendo com que a mulher os consuma de forma descontrolada”, explica Monica Machado, psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Principais sintomas: compulsão por doces ou comidas gordurosas/calóricas, descontrole alimentar em um curto período de tempo, sentimento de culpa, arrependimento ou vergonha depois de comer.
O que pode ajudar: pratique atividades aeróbicas moderadas, como bicicleta e caminhada. Além de auxiliar na estabilização da taxa glicêmica, aumenta a liberação de endorfina e dopamina, que proporcionam relaxamento e efeitos analgésicos.
“Se o quadro for mais grave, o tratamento se faz com terapia e medicamentos que controlam a compulsão. O acompanhamento de nutricionista também é importante para a mudança dos hábitos alimentares”, diz Monica Machado.
TPM D
Aqui, a referência é a depressão. Segundo a psiquiatra Danielle Admoni, na fase pré-menstrual, há diminuição da serotonina, um hormônio neurotransmissor que regula humor, sono, apetite, frequência cardíaca, entre outros fatores. “Com os níveis mais baixos, a mulher tem maior suscetibilidade a transtornos depressivos, principalmente se ela já tiver pré-disposição”, diz.
Principais sintomas: labilidade emocional (variação frequente do humor), desinteresse pelas atividades do cotidiano, dificuldade de concentração, dificuldade para dormir ou sono excessivo, tristeza sem causa aparente, fraqueza generalizada e dores no corpo.
O que pode ajudar: invista em atividades que lhe proporcionem prazer e aumente a ingestão da vitamina B6, que ajuda na síntese da serotonina. Ela está presente em ovos, banana, cereais integrais, feijão-branco, soja, nozes, batata, aveia, pistache, tomate, entre outros.
Assim como na ansiedade e na compulsão alimentar, é preciso avaliar com um médico os sintomas depressivos. “Em muitos casos, a depressão já está instalada na mulher, e a TPM pode ou ‘mascarar’, ou levantar a hipótese dessa possível depressão. Daí a importância de buscar ajuda quanto antes”, alerta Danielle Admoni.
TPM H
Neste grupo, o H está relacionado à hidratação, ou seja, quando a mulher tem como principal sintoma a retenção de líquido. “Isso ocorre devido a maior produção da progesterona, que aumenta o volume plasmático (líquido do sangue) e a sensação de inchaço”, explica o ginecologista Carlos Moraes.
Principais sintomas: ganho de peso (por conta da retenção de líquido), inchaço abdominal, sensibilidade e inchaço nas mamas e inchaço nas extremidades do corpo, como mãos e pés.
O que pode ajudar: evite produtos com muito sódio, como os ultraprocessados, que estimulam a retenção hídrica, e aposte em alimentos como frutas, verduras, legumes, grãos inteiros e proteínas magras. Contudo, “Também aumente o consumo de água e evite bebidas alcoólicas e gasosas, que estimulam o inchaço”, aconselha Claudia Chang.
TPM O
Segundo Carlos Moraes, há também outros sintomas que podem estar relacionados a TPM. Estes foram agrupados e classificados como tipo O, referente a “outros” sintomas.
Entre eles estão: alteração no funcionamento intestinal, aumento da frequência de urinar, calores repentinos ou sudorese fria, dores generalizadas, incluindo cólicas, náuseas, acne e pele oleosa, reações alérgicas e infecções do trato respiratório.
“Vale lembrar que mudanças permanentes no estilo de vida, como alimentação saudável, prática de atividade física, check-ups regulares e boas noites de sono, ajudam muito não só a reduzir os sintomas da TPM, mas a ter uma melhor qualidade de vida. De qualquer forma, se a TPM for incapacitante, a ponto de afetar sua rotina, consulte-se com seu ginecologista. Nem sempre estes sintomas têm relação direta com o ciclo menstrual”, finaliza Carlos Moraes.