Se você está em terapia de reposição hormonal e utiliza medicamentos como
Ozempic (semaglutida) ou Mounjaro (tirzepatida), este conteúdo é essencial para
que compreenda os possíveis riscos envolvidos e a importância de um
acompanhamento adequado.

A fase da transição para a menopausa e o período pós-menopausa trazem uma série de desafios à saúde da mulher. Entre os mais comuns estão o ganho de peso, a mudança na distribuição da gordura corporal — especialmente na região abdominal — e o agravamento do perfil metabólico.
Por isso, estratégias que combinem o cuidado hormonal com o controle do peso e da saúde cardiovascular vêm ganhando cada vez mais relevância clínica.
Um documento publicado recentemente pela British Menopause Society analisou com profundidade um tema cada vez mais presente nos consultórios: o uso de terapias baseadas em incretinas (como semaglutida e tirzepatida) por mulheres que fazem uso de terapia hormonal (HRT). A seguir, compartilho os pontos mais relevantes desse estudo e comento como essa nova realidade pode impactar as escolhas terapêuticas no dia a dia.
O que são as terapias baseadas em incretinas?
As incretinas são hormônios produzidos no intestino, que regulam o apetite, a saciedade e a secreção de insulina. Medicações como a semaglutida e a tirzepatida são versões sintéticas desses hormônios e têm sido utilizadas com sucesso no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2.
Essas terapias não apenas promovem a perda de peso como também oferecem benefícios adicionais no controle da glicemia, na melhora de marcadores cardiovasculares e, em alguns casos, na sobrevida de pacientes com comorbidades.
Menopausa, obesidade e risco endometrial: a equação delicada
Sabemos que a menopausa está associada ao aumento da gordura visceral e ao agravamento do risco cardiometabólico. Esse cenário é ainda mais crítico quando há sobrepeso, obesidade ou histórico familiar de doenças cardiovasculares e metabólicas.
A obesidade, por si só, já representa um fator de risco para doenças como o câncer de endométrio. Além disso, quando se associa a uma terapia hormonal mal ajustada — especialmente com progestagênios orais em doses possivelmente afetadas pelas terapias com incretinas — o risco pode se intensificar.
Efeitos dos medicamentos incretínicos sobre a terapia hormonal
A principal preocupação clínica destacada pelo documento da BMS está relacionada à absorção dos hormônios quando utilizados por via oral. Contudo, medicações como semaglutida e tirzepatida podem
retardar o esvaziamento gástrico e interferir na absorção de medicamentos orais, incluindo os hormônios da reposição hormonal.
Estudos já demonstraram que a tirzepatida pode reduzir em até 66% a concentração máxima de contraceptivos orais no sangue, além de alterar a biodisponibilidade do medicamento. Por outro lado, apesar de ainda não haver dados conclusivos sobre a interferência direta nos progestagênios usados na HRT, a orientação é clara: a cautela deve prevalecer.
Recomendações práticas para mulheres que usam HRT e estão em
tratamento com semaglutida ou tirzepatida

A conduta mais segura — especialmente para mulheres com útero — é garantir proteção endometrial adequada. Sendo assim, nesse contexto, a preferência recai sobre métodos não orais de administração de progestagênios, como o sistema intrauterino liberador de levonorgestrel (DIU hormonal), que não sofre interferência na absorção e oferece proteção estável e contínua.
Em situações em que o progestagênio oral é mantido, recomenda-se considerar um aumento da dose por pelo menos quatro semanas após o início ou ajuste da medicação incretínica, sempre com acompanhamento médico e consentimento informado.
Além disso, casos de sangramento uterino inesperado devem ser prontamente investigados, especialmente em mulheres com fatores de risco. A presença de sangramentos persistentes pode ser um indicativo de alteração endometrial que exige avaliação criteriosa.
HRT transdérmica: uma aliada segura
Outro ponto importante reforçado pelo estudo é a segurança da via transdérmica para a administração do estrogênio. Assim, diferentemente da via oral, que pode aumentar o risco de trombose venosa profunda, a via transdérmica é neutra nesse aspecto e não sofre interferência de medicamentos que afetam o trato gastrointestinal.
Para mulheres com histórico pessoal ou familiar de trombose, ou com obesidade e uso de terapias como a semaglutida ou a tirzepatida, essa escolha pode representar um benefício adicional em termos de segurança.
Conclusão: decisões individualizadas e bem
acompanhadas são o melhor caminho
O uso combinado de terapias baseadas em incretinas e reposição hormonal exige atenção, mas pode ser conduzido com segurança, desde que se respeitem alguns princípios clínicos fundamentais.
A via de administração dos hormônios, a escolha do tipo de progestagênio e o monitoramento de eventuais sangramentos são pontos-chave para garantir a eficácia e a segurança do tratamento.
Cada paciente deve ser avaliada em sua individualidade. Portanto, diante do crescimento do uso de medicamentos como semaglutida e tirzepatida, esse tema deve estar presente nas conversas entre ginecologista e paciente, de forma clara, objetiva e informada.
Em resumo:

O uso simultâneo de reposição hormonal e medicamentos indicados para emagrecimento — como
Ozempic (semaglutida) ou Mounjaro (tirzepatida) — exige avaliação médica criteriosa.
Quando mal conduzido, esse tipo de combinação pode comprometer a absorção hormonal, reduzir a eficácia da proteção endometrial e aumentar riscos que poderiam ser evitados com o acompanhamento médico adequado.
Por isso, mulheres que estejam utilizando ou desejam iniciar qualquer uma dessas terapias devem ser acompanhadas por um ginecologista com experiência em reposição hormonal, saúde metabólica também o uso adequado de protocolos de emagrecimento.
Se este for o seu caso, agende uma consulta agora mesmo e receba uma orientação personalizada, segura e baseada em evidências.